GOMA, RDC – Rebeldes do Movimento 23 de Março (M23), apoiados por Ruanda, anunciaram nesta segunda-feira (27) que tomaram o controlo da cidade de Goma, capital da província de Kivu do Norte, no leste da República Democrática do Congo (RDC). O anúncio ocorre em meio a confrontos intensos e uma crise humanitária alarmante.
Declaração dos rebeldes e reação do governo
A coligação político-militar Aliança do Rio Congo (AFC-M23) classificou o dia como “glorioso” e declarou Goma “libertada”. Em comunicado, o grupo pediu calma aos moradores, afirmando que a situação está “sob controlo”.
No entanto, o governo da RDC negou a perda completa da cidade e garantiu que controla áreas estratégicas, como o aeroporto. “As FARDC [Forças Armadas da RDC] mantêm o controlo do aeroporto de Goma e outros pontos essenciais”, afirmou o governo, desmentindo as informações divulgadas nas redes sociais.
Conflitos e crise humanitária
Tiros foram ouvidos perto do aeroporto e em outras partes de Goma, enquanto moradores relataram confrontos entre forças do governo e combatentes do M23. O agravamento da situação forçou dezenas de milhares de pessoas a fugirem da cidade em direção a regiões vizinhas, segundo a ONU.

Locais que abrigavam mais de 300 mil deslocados ficaram vazios em poucas horas, com as principais vias bloqueadas e o aeroporto paralisado, dificultando os esforços de evacuação e a assistência humanitária.
Fuga em massa de reclusos
No meio do caos, ocorreu uma evasão em massa na principal cadeia de Goma, que abrigava cerca de 3 mil reclusos. O incêndio provocado durante a fuga causou várias mortes, embora números exatos não tenham sido divulgados.
Reações internacionais
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu a retirada das tropas ruandesas do território congolês e exortou o M23 a cessar suas operações hostis. Guterres também apelou para que Ruanda “cesse o apoio ao M23” e reiterou a necessidade de negociações para resolver o conflito.
Origem do conflito
O M23, formado em 2009, acusa o governo congolês de colaborar com o grupo rebelde ruandês FDLR, que inclui líderes do genocídio de 1994. Por sua vez, a RDC e a ONU acusam Ruanda de apoiar o M23 com tropas e armamento pesado.
A escalada recente reflete anos de tensões entre os dois países. Após capturar Goma em 2012 e recuar devido à pressão internacional, o M23 voltou a ofensiva em 2022, conquistando vastas áreas ricas em minerais no Kivu do Norte.
De acordo com a ONU, cerca de três milhões de pessoas estão deslocadas no leste do Congo em função dos conflitos, agravados pelo avanço dos rebeldes.

Fonte: RTP